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As belas “Mortas” de Oswald na Oswald

Na sexta
feira, 13 de maio, assisti a uma bela encenação na Oficina Cultural Oswald de
Andrade da “A Morta” de Oswald de Andrade criada pela Cia Aberta de
Teatro, com direção geral de Cacá Toledo, com um grande elenco e ficha técnica –
todos muito competentes. A encenação percorre as dependências do térreo do centenário edifício da
Rua Três Rios apropriando-se muito bem das diferentes características do prédio.


Foto de João Maria Silva Jr

Enquanto
assistia ao espetáculo me ocorreu que as montagens dos textos modernistas
deveriam ser recorrentes, penso que seria útil na construção de um olhar
diferenciado sobre nossa herança teatral, além de conhecermos melhor detalhes
de um texto tão elaborado, veríamos os diferentes matizes dos encenadores,
tendo os mesmos textos como partida. A ideia me ocorreu por conta da pungência
da montagem da Cia Aberta que não se eximiu das dificuldades impostas pela
dramaturgia, pelo contrário, expôs cenas narrativas que não eram de fácil
assimilação nem quando foram escritas há 85 anos, não existe nenhuma fabula, o
fio condutor é tênue, o texto possui diversos tipos de narração com diversas
camadas. A questão é que mesmo o texto não sendo aristotélico e nem brechtiano desperta
interesse, e assim cada pessoa do público pode assimilar as propostas do autor dentro
de suas possibilidades. Isto ocorre assim como acontece em desfiles de escolas
de Samba, onde as alegorias dão outros sentidos as ideias apontadas no samba. Na
encenação de A Morta isto ocorre de forma muito elaborada, nos fazendo pensar
em questões sociais graves que continuam na ordem do dia, sem renunciar ao
prazer estético. Assisti muito teatro nestes últimos 40 anos (tenho 55) mas a
ideia de Oswald de colocar a classe trabalhadora vendendo sua vida para os
mortos da burguesia me parece imbatível, pode-se resolver com uma imagem, com
poucas palavras uma ideia de que força e alcance universal enquanto vivermos
sob está sociedade de classes sociais, o conteúdo é claro, a forma proposta no
texto é uma alegoria ampla, a cena fica poderosa e nada panfletária ou de um
didatismo simplório.

Foto de João Maria Silva Jr

Este parentesco
do Carnaval com o teatro Antropofágico de Oswald não é novidade, o próprio
autor dá sinais disto, o Oficina desenvolveu trabalhos importantíssimos a
partir desta premissa nos anos 60. Mas esta fonte está longe de secar, é tão
rica que parece intocada. Tenho impressão de que a intenção de Zé Celso nos
anos 60 (O Rei da Vela) ou de Antunes nos anos 70 (Macunaíma) não foi o de
fazer nunca foi fazer as obras definitivas, mas sim obras de apresentação, que
trouxessem a importância e a necessidade de mergulhar na beleza e na
complexidade de nossa dramaturgia modernista. Acontece que competência destes
dois encenadores apresentou as plateias espetáculos belíssimos, tão belos que causou
um efeito não esperado, os colocou em um pedestal, outros encenadores ficaram
receosos de montar estes textos e se expor a comparações com o que foi
realizado que à primeira vista parecem ser obras definitivas.

A Cia Aberta
realizou a cena com maestria usando a parte central do prédio como se fosse uma
passarela do sambódromo, e assumindo explicitamente o parentesco próximo ao
carnaval. Este é um exemplo, talvez nem seja o melhor, de como podemos aprender
visitando a obra de Oswald, Mario e outros. Na verdade, ao criar uma encenação
de uma destas obras estamos nos visitando, nos conhecendo como nação.

Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade – Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro – São Paulo.

Temporada: 11 a 28/5. Quarta a sexta, às 20h e sábados, às 18h. 12 apresentações.

As apresentações seguem até 28 de maio, de quarta a sábado, às 20h.

Peça itinerante e a capacidade em locais fechados é de 40 a 60 lugares.

Ingressos: Grátis. Retirar 1h antes.

Duração: 90 minutos

É necessário apresentar o comprovante de vacinação contra a Covid-19, com, pelo menos, duas doses ou dose única. É recomendado a utilização de máscara nos espaços internos da Oficina.

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